domingo, 10 de outubro de 2010

Sobre a classificação dos gêneros artísticos

O que é gênero? O que diferencia uma forma de expressão da outra? Será que a categorização é um esforço inútil, num mundo em que impera o individualismo? Esse será o nosso tema.
Considerando a cognição parcialmente inata e parcialmente influenciada por fatores externos de ordem antropológica, as diferenças entre visões de mundo serão resultado direto desse segundo tipo de influência. A maioria dos acadêmicos da atualidade utilizam a expressão "contexto sócio-cultural", geralmente acompanhada por "na qual o indivíduo está inserido", ou pequenas variações linguísticas disso. É nesse ponto em que divergimos, pois "contexto" é uma noção extremamente superficial, que precisaria de uma caracterização muito mais detalhada de seus elementos. Também não aceitamos que a caracterização do contexto seja "um monte de coisas diferentes que se relacionam", ou seja, transformar contexto em hipertexto não nos engana, e não vou citar fontes agora. Se a realidade é mesmo reflexo da cognição, os elementos que a constituem são da mesma dimensão dos nossos processos de pensamento, com semelhante complexidade.
Dessa maneira, a percepção dos gêneros artísticos como indutores de diferentes sensações implica num detalhado destrinchamento dos aspectos mais sutis que os caracterizam. Um gênero comporta-se de maneira semelhante à de uma língua ou dialeto, e muitas associações podem surgir daí. Cultura, etnia, língua, e formas de expressão artística costumam ser vistas num mesmo pacote. É óbvio que alguém agora vai me atacar e dizer que não é bem assim que funciona, mas eu estou falando de tendências que levam a formas de classificação, que serão abordadas no próximo parágrafo.
A classificação é algo inato ao ser humano. Separar e agrupar as coisas do mundo é um processo crucial para a formação de um vocabulário de signos. Porém, a classificação é um processo arbitrário, pois as diferentes nuances de significado produzem diversos agrupamentos possíveis. Toda a categorização produz uma estrutura em forma de raiz, com o universo sendo o caule e as ramificações produzindo separações dentro do universo. Isso ocorre quando dividimos a música, a pintura, a dança, o teatro, enfim, em gêneros específicos. Então, se essa separação é arbitrária, ela é inútil, diz o individualismo. Apesar de eu simpatizar com essa ideia, devo pedir desculpas, mas eu menti ao dizer que a separação é aleatória. Seria uma contradição dizer que a classificação é arbitrária e ao mesmo tempo tendenciosa. E essa tendência tem raízes sócio-culturais, evidentemente.
Nossa sociedade eurocêntrica divide a música em Blues, Jazz, Clássica, Rock, Metal, Experiemental, (...), e a palavra "tradicional" descreve toda a música não produzida no ocidente ou que soa exótica em algum aspecto. Nas artes visuais, temos Renascimento, Barroco, Impressinismo, Surrealismo, Dadaísmo, (...), e a arte oriental não passa de "arte oriental". Parece que o pensamento ocidental é tão "complexo e diversificado" que não dá muito espaço ao pensamento das sociedades "menos civilizadas". Odeio fazer crítica social, mas já tendo feito, eu deixo o desenrolar dela com os retóricos de plantão.
Não existem fenômenos aleatórios. Por mais que um pensamento pareça aleatório, ele apareceu por conta de um certo estímulo e de uma certa associação de signos. Computadores não produzem 1s e 0s aleatoriamente, da mesma maneira que nossas sinapses não transmitem impulsos elétricos por caminhos aleatórios. Se algo de ruim acontece e não se vê causa, certamente houve uma sequência de eventos que, de maneira improvável, mas não aleatória, levaram ao desfecho indesejável. Na própria física quântica, a aleatoriedade decorre da incerteza, e não do funcionamento intrínseco da realidade. Ahh sim, mas houve nova contradição, pois nós já dissemos que a realidade é reflexo do pensamento, então a aleatoriedade seria, de fato, o reflexo da incerteza, e não faria sentido nós discutirmos sobre a existência de um funcionamento intrínseco e independente do mundo real. Isso contraria a base das nossas metodologias científicas, mas eu não estou nem aí.
Acabei, tenham uma ótima semana!!

3 comentários:

  1. Caramba essa foi foda!

    Apesar de não ter entendido muita coisa do que li (to me sentindo burro agora), eu pensava muito sobre isso algum tempo atrás.

    Realmente aleatório estaria a partir da onde não conseguimos enchergar/analisar???

    Se eu cassifico, é a partir dos meus critérios??? O que não consigo classificar invento um nome que não defina por que pra mim é indefinido???

    Ler o blog não foi acidental???

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  2. O Einstein era muito relutante com relação à aleatoriedade. Para ele, "Deus não joga dados". Para demonstrar que a aleatoriedade da física quântia era apenas aparente, ele fez um experimento. Einstein se surpreendeu com os resultados, pois eles o contradiziam. Chama-se paradoxo EPR. Assim, a física por um lado preserva a causalidade, mas não exclui a aleatoriedade. Curioso, não?

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  3. Um mano meu disse pra mim seguir o blog, ele queria que eu acompanhasse o desenvolvimento dessas postagens (cara ta animal).

    Quando se fala em casualidade, quer dizer que é o resultado de muitos efeitos ou muitas ações???

    Aleatoriedade quer dizer que não existe regra ou influência???

    Não devo descartar hipóteses por que eu não posso provar que são falsas (ou reais)???

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